Como o Mundo Afundou na Crise de 1929: Um Mergulho Histórico

Descubra de forma leve e envolvente as causas da Crise de 1929, o colapso de Wall Street e como o mundo inteiro mergulhou na maior crise econômica da história. Entenda a história por trás do “quebra-quebra” que mudou tudo.

O mundo sempre teve suas tempestades. Crises? Ah, essas são como velhos fantasmas que insistem em visitar de tempos em tempos. As crises econômicas, em particular, são hóspedes frequentes. Como diz o historiador René Rémond, “as crises econômicas se repetiram no século XIX de maneira quase regular, a ponto de seu caráter recorrente parecer fazer parte da essência do regime capitalista” (Rémond, t. 3, 2002, edição digital, Kindle, I.4.3).

Mas o cenário que se formava no final dos anos 1920 prometia algo diferente. Algo grande. Algo que o mundo jamais esqueceria.

Um Epicentro Chamado Wall Street

O epicentro dessa explosão foi os Estados Unidos da América. Tudo começou na bolsa de Nova York, mais precisamente em Wall Street, durante a famoso “quinta-feira negra”, em 24 de outubro de 1929. De repente, o que era um problema americano virou um incêndio global. Como bem observa Rémond, isso era “… relativamente novo. Tradicionalmente […] as crises tinham pouco impacto na economia da Europa Ocidental.” (Rémond, t. 3, 2002, edição digital, Kindle, I.4.3)

Mas peraí: como é que uma economia que parecia “em plena prosperidade” desmorona assim, do nada?

De Credores a Quebrados

Depois da Primeira Guerra Mundial, os Estados Unidos viraram a locomotiva econômica do mundo. Tinham emprestado rios de dinheiro para a Europa, consolidando sua posição de super credor mundial (Plourde, HST-1008, aula 9). O dólar brilhava, poderoso, e as economias americana e europeia ficaram tão entrelaçadas que um soluço de um lado virava gripe do outro.

Só que, a partir de 1926, a locomotiva começou a fazer barulhos estranhos. Como explica Rémond, a crise “se espalha de setor em setor como um efeito dominó” (Rémond, t. 3, 2002, edição digital, Kindle, I.4.3).

O problema? Depois da guerra, todo mundo queria produzir como nunca. Agricultura, indústria… era excesso de tudo. Só que a Europa, ainda se recuperando, não queria — nem podia — comprar tanto assim. Resultado: preços agrícolas despencaram, enquanto os preços das máquinas continuavam nas alturas. Os agricultores viram suas dívidas crescerem, enquanto o bolso da população em geral ficava cada vez mais vazio.

O Mundo do Crédito Fácil e da Ilusão

Para tentar manter a roda girando, os bancos deram carta branca para todo mundo pegar empréstimos. Comprar na bolsa virou esporte nacional! Plourde lembra que “6% da população americana” estava envolvida em operações especulativas até 1929, inflando de maneira irracional o valor das ações (Plourde, HST-1008, aula 9).

Só que tem um detalhe: no final dos anos 1920, quem podia comprar carro, geladeira, rádio… já tinha comprado. A demanda por novos produtos despencou. As empresas começaram a reduzir turnos, demitir gente, e o desemprego surgiu como uma sombra cada vez maior. Menos gente trabalhando = menos dinheiro circulando = menos consumo = mais crise. Uma bola de neve perfeita.

O Dia em que Wall Street Despencou

A famosa quinta-feira negra foi o ápice: “ações ofertadas não encontravam compradores numa proporção alarmante: cerca de 70 milhões de ações foram despejadas no mercado sem que ninguém quisesse” (Rémond, t. 3, 2002, edição digital, Kindle, I.4.3). Mais de 18 bilhões de dólares evaporaram. Sim, 18 bilhões. Imagine ver sua fortuna virar poeira da noite para o dia.

A quebradeira se espalhou: bancos fecharam as portas, indústrias faliram, investidores falidos — alguns, infelizmente, tirando a própria vida. Como um efeito dominó cruel, “as falências bancárias […] provocaram a falência em cascata de muitas empresas comerciais e industriais” (Plourde, HST-1008, aula 9).

O Mundo Inteiro no Mesmo Barco Furado

Como os mercados já estavam conectados, a crise pulou rapidamente para a Europa. Primeiro Alemanha e Áustria, depois a Inglaterra e suas colônias. A França, graças a sua agricultura forte e um nível mais baixo de industrialização, até que segurou melhor a onda — mas também não saiu ilesa (Plourde, HST-1008, aula 9).

Em apenas cinco anos, a crise destruiu os três pilares da economia mundial: a produção, o comércio internacional de capitais e produtos, e o sistema monetário montado depois da Primeira Guerra Mundial. Nunca antes o mundo tinha sido sacudido por uma crise tão profunda, tão extensa e tão longa.

Para se recuperar da crise, muitos governos tomaram medidas duras. Muitas furadas. Mas algo que funcionou bem foi o próprio governo começar a fazer investimentos na infra-estrutura. No Québec (província onde vivo), por exemplo, o governo construiu diversos prédios públicos para tentar amenizar o desemprego. Você pode ler aqui um artigo que escrevi para o Portal Québec em Foco sobre uma dessas obras.

Só que nesse barco furado ainda entraria muita água. Ao invés de tirar água do barco, as nações se envolveram no maior conflito que a humanidade já viu – a Segunda Guerra Mundial. Mas isso é tema para meu próximo artigo!

Fontes e Referências

  • Rémond, René. Introduction à l’histoire de notre temps. Tome 3 : Le XXe siècle, de 1914 à nos jours. Seuil, 2002. Edição digital, Kindle. Capítulo 4 : « La crise de 1929 et la grande dépression ».
  • Material das aulas da minha professora, Andrée-Anne Plourde, da Université Laval.

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  1. Pingback: A Grande Depressão e o Grande Reservatório em Plains d’Abraham

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