Nota do editor do Blog: este artigo é uma tradução feita por mim (William Zimmermann) do artigo “Gath of the Philistines: A New View of Ancient Israel’s Archenemy” (por Aren M. Maeir) publicado na revista Bible Archaeology Review, Outono de 2024. Reproduzo aqui a citação para acompanhar uma tese que ainda será publicada sobre o uso do Ferro pelos povos Hebreus. Para um acesso ao artigo original, juntamente com imagens, acesse: https://library.biblicalarchaeology.org/article/gath-of-the-philistines-a-new-view-of-ancient-israels-archenemy/#attachment_135969.
Resumo do Artigo
O autor dirigiu as principais escavações em Tell es-Safi — “Gate dos Filisteus” (Amós 6:2) — por cerca de 25 anos, de 1996 a 2021. Este local, localizado no centro de Israel e ocupado desde a pré-história até os tempos modernos, é um dos maiores montes arqueológicos do país. Ele revelou uma quantidade substancial de dados sobre muitos períodos e culturas, mas, em particular, sobre os Filisteus bíblicos nos primeiros séculos da Idade do Ferro (c. 1200-830 a.C.). De fato, essas escavações em Gate, junto com pesquisas relacionadas em outros locais em Israel, mudaram profundamente a compreensão deles dos dos Filisteus, suas origens culturais e sua relação com os reinos de Israel e Judá.
Desde o início da pesquisa arqueológica no Levante, a narrativa dominante sobre os Filisteus baseava-se em uma leitura literal dos textos bíblicos (ex.: as histórias de Sansão em Juízes 13–16 e de Davi e Golias em 1 Samuel 17). Os Filisteus eram vistos como um grupo étnico estrangeiro e organizado, provavelmente originário do Egeu. Eles migraram para o sul do Levante e conquistaram a região da Filístia (a costa mediterrânea do sul de Canaã) no início do século XII a.C. Essa migração aconteceu durante a transição entre as Idades do Bronze e do Ferro, um período marcado por evidências de outros novos grupos, como os israelitas e arameus.
Filisteus e Povos do Mar: As descrições dos “Povos do Mar”, migrantes e saqueadores, apareceram em fontes egípcias dessa época, notavelmente nos relevos no templo mortuário de Ramsés III em Medinet Habu. Os estudiosos identificaram os “Peleset”, uma das tribos dos Povos do Mar, com os Filisteus. Esses Povos do Mar causaram destruição pelo Mediterrâneo oriental enquanto buscavam uma nova terra, mas foram repelidos pelos egípcios em sua tentativa de atacar o Delta do Nilo.
Após sua derrota, os Filisteus se estabeleceram em Canaã e tornaram-se o poder dominante na região até o século X a.C. Com o surgimento dos reinos de Israel e Judá, seu poder diminuiu, mas os Filisteus continuaram a ser os principais antagonistas dos reinos bíblicos por séculos. Argumentava-se que um processo de assimilação ocorreu, em que os Filisteus perderam lentamente os aspectos originais de sua cultura egeia e os substituíram por elementos locais do Levante. No final da Idade do Ferro, os Filisteus pareciam, falavam e agiam como seus vizinhos.
Novas Descobertas em Gate: As escavações em Gate, uma das maiores cidades filisteias e o reino mais poderoso do sul do Levante nos primeiros séculos da Idade do Ferro, permitiram revisar muitas dessas suposições. Ao invés de uma invasão monolítica, a emergência da cultura filisteia parece ter sido resultado de uma série de eventos que começaram no final do século XIII e continuaram por décadas, com um processo de migração gradual.
Cerâmica e Cultura Material: Um dos aspectos mais conhecidos da cultura filisteia é a cerâmica decorada, que inicialmente imitava estilos egeus, mas gradualmente incorporou tradições locais tanto na forma quanto na decoração. A cultura filisteia também não se originou de uma cultura específica do Mediterrâneo. Ela incluía elementos de várias culturas — como micênica, minoica, cipriota e anatólia — e influências locais do Levante.
Língua e Comunidades: No que diz respeito à língua, embora haja nomes e termos associados aos Filisteus que lembram o grego da Idade do Bronze, como “Golias” e “Aquis”, esses termos muitas vezes têm paralelos em outras línguas, como o luvita, uma língua dos hititas. Os Filisteus do início da Idade do Ferro eram compostos por diversas “comunidades linguísticas” que usavam tanto línguas locais quanto estrangeiras. No final, o idioma filisteu evoluiu para uma língua semítica do noroeste, similar ao fenício e ao hebraico.
Práticas Alimentares e Enterros: As tradições alimentares dos Filisteus, como o consumo de carne suína, também se mostraram complexas. O consumo de porco, por exemplo, diminuiu ao longo do tempo em alguns locais, mas não em Gate. Evidências de DNA antigo e estudos isotópicos indicam uma população composta por elementos tanto estrangeiros quanto locais.
Comércio e Influências Culturais: Ao contrário da crença de que o comércio internacional cessou com a chegada dos Filisteus, evidências indicam que o comércio continuou em menor escala. Os Filisteus importavam cerâmica, metais e até alimentos exóticos, como bananas e soja, indicando uma continuidade de influências estrangeiras.
Crescimento e Decadência de Gate: No século XI, a cidade de Gate cresceu, incluindo uma cidade alta e uma cidade baixa, prosperando até ser destruída pelo rei arameu Hazael em 830 a.C. Durante essa época, Gate tornou-se a potência dominante na região. As evidências indicam uma intensa troca cultural entre Gate e Judá. Por exemplo, formas de objetos religiosos filisteus aparecem em Judá e vice-versa, sugerindo influências cultuais mútuas entre as duas regiões.
A destruição de Gate pelas forças de Hazael marcou o fim de sua dominância. Após isso, Judá expandiu-se na região, e Gate sofreu danos adicionais durante um terremoto no século VIII, antes de cair sob controle judaíta e, eventualmente, ser destruída pelos assírios.
Conclusão: Mais de 25 anos de escavações revelaram uma cidade movimentada da Idade do Ferro em Gate. Essas descobertas fornecem dados ricos que permitem entender a cultura filisteia de uma nova maneira, demonstrando que os Filisteus eram uma sociedade complexa, marcada por uma mistura de elementos estrangeiros e locais.
Artigo Traduzido
Traduzido por: William Zimmermann
Dirigi as principais escavações em Tell es-Safi — “Gate dos Filisteus” (Amós 6:2) — por um quarto de século, de 1996 até 2021. O sítio, localizado no centro de Israel e habitado desde a pré-história até os tempos modernos, é um dos maiores montes arqueológicos do país. Ele produziu uma quantidade substancial de dados sobre muitos períodos e culturas, mas, em particular, sobre os Filisteus bíblicos nos primeiros séculos da Idade do Ferro (c. 1200–830 a.C.). De fato, nossas escavações em Gate, junto com pesquisas relacionadas em outros sítios em Israel, mudaram profundamente nossa compreensão dos Filisteus, suas origens culturais e sua relação com os reinos de Israel e Judá.
Desde o início da pesquisa arqueológica no Levante, a narrativa interpretativa dominante sobre os Filisteus baseava-se em uma leitura bastante literal dos textos bíblicos (por exemplo, a história de Sansão em Juízes 13–16 e a história de Davi e Golias em 1 Samuel 17). Os Filisteus eram vistos como um grupo étnico organizado, distinto, de origem estrangeira, provavelmente derivado do Egeu. Eles migraram para o sul do Levante e conquistaram a região da Filístia (a costa mediterrânea sul de Canaã) no início do século XII a.C. Essa migração ocorreu durante a transição entre as Idades do Bronze e do Ferro, um período em que vemos evidências de outros novos grupos de pessoas, como os Israelitas e Arameus.
Representações de “Povos do Mar” migrantes e saqueadores apareceram nas fontes egípcias dessa época, notavelmente nos relevos do templo mortuário de Ramsés III em Medinet Habu. Os estudiosos identificaram os Peleset, uma das tribos nomeadas dos Povos do Mar, como os Filisteus. Deixando um rastro de destruição em seu caminho, os Povos do Mar saquearam o Mediterrâneo oriental enquanto buscavam uma nova pátria. Mas eles não foram páreo para os egípcios, que conseguiram repelir o ataque dos Povos do Mar ao Delta do Nilo.
Após sua derrota pelos egípcios, os Filisteus se estabeleceram em Canaã. Tornaram-se a potência dominante na região até o século X a.C. Com a ascensão dos reinos de Israel e Judá, o poder filisteu diminuiu, mas eles permaneceram como os principais antagonistas dos reinos bíblicos por séculos. Os arqueólogos argumentam que houve um processo de assimilação, em que os Filisteus lentamente perderam os aspectos egeus originais de sua cultura e os substituíram por elementos locais do Levante. Ao final da Idade do Ferro, pensava-se que os Filisteus se pareciam, soavam e agiam muito como seus vizinhos.
Esse é um resumo da narrativa tradicional sobre as origens dos Filisteus e seu papel na história do antigo Israel. Mas acredito que as descobertas em Gate — uma das maiores cidades filisteias e o reino mais poderoso do sul do Levante durante os primeiros séculos da Idade do Ferro — nos permitem revisar muitas dessas suposições arraigadas.
Fissuras na visão tradicional começaram a aparecer nas últimas décadas, e não apenas a partir das escavações em Gate. Evidências surgiram de que o surgimento da cultura filisteia não foi devido a uma migração e conquista específica no início do século XII. Em vez disso, parece ter sido consequência de uma longa série de eventos, possivelmente começando no final do século XIII e continuando por décadas. Isso não foi uma invasão monolítica, mas, mais provavelmente, uma série de migrações.
Da mesma forma, há poucas evidências de destruição nas várias cidades cananeias, como Gate, Ascalom e Ecrom, que se tornaram o coração da Filístia. Na maioria dos casos, há uma clara continuidade do final da Idade do Bronze até a Idade do Ferro. Embora estrangeiros indubitavelmente tenham chegado à Filístia no início da Idade do Ferro, eles parecem ter vivido ao lado dos cananeus locais. Pode ter havido destruições limitadas em alguns dos locais onde os Filisteus se estabeleceram, incluindo Gate, mas, na maior parte, os sítios continuaram a existir quase sem perturbação.
Como argumentei com minha colega Louise Hitchcock, a cultura filisteia inicial era um fenômeno muito mais complexo do que se supunha anteriormente. Ela não era idêntica nem originária de uma cultura ou povo específico do Mediterrâneo. Os Filisteus, sem dúvida, incluíam novos elementos estrangeiros, mas esses elementos provinham de diversas culturas do Egeu e do Mediterrâneo, incluindo as culturas micênica, minoica, cipriota e anatólia. Além desses elementos estrangeiros, influências locais do Levante também são observadas na cultura filisteia inicial.
Os primeiros Filisteus provavelmente eram compostos por uma mistura de grupos estrangeiros — de diferentes origens socioeconômicas, incluindo até mesmo piratas — e povos locais do Levante. Esse pano de fundo misto é aparente na maioria dos aspectos da cultura filisteia, incluindo a cerâmica, a língua, as tradições alimentares, os sepultamentos e a religião.
Comecemos com a cerâmica, talvez o aspecto mais conhecido da cultura material filisteia. Estudos anteriores sugeriam que a primeira fase da cerâmica decorada filisteia — que apareceu nos assentamentos filisteus no início do século XII — foi moldada com base na cerâmica egeia contemporânea (chamada de Heládico Tardio IIIC) e evidenciava a transferência direta das tradições cerâmicas egeias para a Filístia. No entanto, apenas parte do repertório cerâmico do Heládico Tardio IIIC aparece no sul do Levante no início da Idade do Ferro. Além disso, essa cerâmica era usada na Filístia de maneiras diferentes do que no Egeu e também era estilisticamente única, incorporando tradições locais tanto na forma quanto na decoração.
Passando para a língua, os estudiosos há muito assumem que os primeiros Filisteus falavam algo semelhante ao grego da Idade do Bronze. Certos nomes e palavras associados aos Filisteus na Bíblia, como Golias, Aquis e seren (título que significa “líder”), pareciam estar associados aos micênicos. No entanto, essa interpretação simplifica demais a questão. Alguns desses termos “filisteus” relacionam-se a outras línguas. Por exemplo, seren provavelmente vem do luvita (uma língua falada pelos hititas), e o nome Golias encontra paralelos no luvita também. Assim, os primeiros Filisteus são melhor imaginados como compostos por “comunidades linguísticas” — grupos de pessoas que compartilham normas, expectativas e padrões de uso linguístico — que usavam tanto línguas locais quanto estrangeiras.
Mais tarde, na Idade do Ferro, essas comunidades linguísticas evoluíram juntas para a língua falada na Filístia, uma língua semítica do noroeste, atestada por um pequeno corpus de inscrições, semelhante ao fenício, hebraico e moabita.
As tradições alimentares também foram consideradas um dos traços mais distintivos da cultura filisteia. A preferência ou a ausência de consumo de certas espécies era vista como uma característica dos sítios filisteus. Isso era especialmente o caso do consumo de carne suína, mas também de carne de cachorro e de plantas específicas, que supostamente foram trazidas pelos Filisteus do Egeu. Evidências botânicas mostram espécies de plantas que aparecem pela primeira vez na Filístia do início da Idade do Ferro, bem como a utilização inicial de certas plantas e possíveis mudanças nas práticas agrícolas. No entanto, essas novas plantas e tradições não necessariamente vieram exclusivamente do Egeu, pois também eram conhecidas em outras regiões do Mediterrâneo.
O consumo de carne suína é uma questão complexa. Parece que as pessoas consumiam carne de porco em locais urbanos da Filístia, mas menos em áreas rurais. O consumo de porco diminui ao longo da Idade do Ferro em alguns locais da Filístia, como Ecrom e Ascalom, mas não em Gate. Ainda mais intrigante, embora pareça que as pessoas comiam muito pouco porco em alguns locais cananeus e judaítas durante a Idade do Ferro, elas consumiam carne de porco em locais do Reino do Norte de Israel. Portanto, uma conexão direta entre o consumo de carne suína e identidade, pelo menos durante a Idade do Ferro, é problemática.
A população diversa da Filístia do início da Idade do Ferro também se reflete em seus sepultamentos. Evidências de DNA antigo publicadas de Ascalom, estudos isotópicos de Gate e evidências de DNA ainda não publicadas de Gate e Tel Erani indicam uma população composta por elementos estrangeiros e locais. Em particular, enquanto alguns sepultamentos infantis de Ascalom parecem mostrar ascendência egeia, outros sepultamentos da Idade do Ferro I em Gate, Erani e até mesmo Ascalom parecem estar mais relacionados à população local cananeia.
Encerramos nossa discussão sobre as origens e a cultura filisteia com uma breve análise do comércio. No passado, assumia-se que o comércio internacional cessou em grande parte com a chegada dos Filisteus a Canaã no final da Idade do Bronze. No entanto, novas evidências de Ascalom, Gate, Erani e do sítio costeiro mais ao norte de Dor indicam que o comércio continuou, embora em volumes menores em comparação com períodos anteriores. Os itens comercializados incluíam cerâmica, metais e até mesmo importações exóticas, como bananas e soja. Isso pode indicar que influências estrangeiras — e talvez até pessoas — continuaram a chegar na Filístia durante o início da Idade do Ferro.
Passamos agora aos séculos X e IX a.C. Como discutido anteriormente, pensava-se que a cultura e o poder filisteu diminuíram com a ascensão do reino de Judá no século X. No entanto, essa visão não é sustentada pelas descobertas em Gate. Não há evidências de que Judá dominou a região à custa dos Filisteus. Pelo contrário, parece que este foi um período de crescimento e prosperidade para Gate. A cidade expandiu-se para incluir tanto uma cidade alta quanto uma cidade baixa durante o século XI e continuou a prosperar até sua destruição pelo rei arameu Hazael em 830 a.C. Não há evidências de qualquer grande destruição até então.
As descobertas na cidade baixa de Gate incluem uma enorme muralha da cidade e um complexo de portões, edifícios públicos, um templo com múltiplas fases, uma grande área de trabalho em metal e estruturas domésticas com instalações de produção de azeite. O tamanho total da cidade (que cresceu para mais de 50 hectares) e esses impressionantes vestígios indicam que o reino de Gate era, com toda probabilidade, a entidade política mais poderosa da região até que a cidade fosse destruída por Hazael. De fato, sua importância geopolítica e econômica pode ter sido uma das principais razões por trás dos esforços de Hazael para destruí-la tão completamente.
Em outras palavras, não há evidências arqueológicas de que a Filístia estivesse sob o domínio do reino de Judá a partir do século X. Embora seja possível que Judá tenha se expandido para o sudoeste da Shefelá (os contrafortes entre a planície costeira e a região montanhosa da Judeia) nessa época, a região central da Shefelá ainda era dominada pelo reino de Gate. Acredito que a destruição e o abandono de vários locais judaítas no início do século X, incluindo Khirbet Qeiyafa e possivelmente também Khirbet al-Ra‘i, podem refletir a dominância de Gate sobre a região.
Embora o texto bíblico apresente os Filisteus como inimigos de Judá, as evidências arqueológicas indicam uma quantidade significativa de intercâmbio cultural entre as duas regiões vizinhas. Por exemplo, cerâmica decorada tardia dos Filisteus é encontrada em sítios judaítas, e formas de objetos religiosos filisteus, como figuras e vasos em forma de cabeça de animal (“copos de cabeça”), aparecem no templo judaíta em Moẓa, a poucos quilômetros a oeste de Jerusalém.
Altares de quatro chifres são bem conhecidos no antigo Israel e Judá, e quando tais altares foram anteriormente encontrados na cidade filisteia de Ecrom, eles foram interpretados como evidências de influência israelita sobre a Filístia, trazida por israelitas que escaparam da destruição assíria do Reino do Norte no final do século VIII. No entanto, a descoberta de um altar de dois chifres em um templo do século IX em Gate indica que tais altares apareceram pela primeira vez na Filístia e que as influências cultuais entre as regiões existiam mais cedo do que se pensava. Curiosamente, ao lado do altar de chifres foi encontrado um jarro de armazenamento judaíta com a inscrição do nome hebraico “Abtam” (ou “Abitam”). Isso sugere que algumas pessoas de Judá participaram das atividades cultuais nesse templo filisteu.
Sabemos, a partir de evidências arqueológicas e textuais, que o domínio de Gate chegou ao fim com a campanha de Hazael na segunda metade do século IX. Em toda a cidade alta e baixa de Gate, há impressionantes evidências da destruição massiva causada por Hazael. Casas inteiras foram queimadas e colapsaram, com seus conteúdos queimados em altas temperaturas. Centenas de vasos bem preservados e outros achados foram encontrados na destruição, assim como os restos mortais de mais de dez indivíduos mortos na conquista. A destruição foi tão devastadora que os mortos foram deixados sem sepultamento, provavelmente porque restaram poucos sobreviventes, e qualquer um que tenha sobrevivido fugiu.
Após a destruição de Gate, a estrutura geopolítica da região mudou completamente. Judá, junto com as cidades filisteias de Ecrom e Ascalom, que anteriormente eram subordinadas a Gate, expandiram-se na Shefelá. Sem jamais se recuperar completamente da destruição arameia, Gate permaneceu abandonada por décadas. No século VIII, a outrora grande cidade sofreu ainda mais danos de um enorme terremoto, registrado pelo profeta Amós (Amós 1:1), e acabou caindo sob o controle judaíta até ser destruída novamente, provavelmente pelos assírios, no final do século.
Mais de um quarto de século de escavações em Gate dos Filisteus revelou uma cidade movimentada da Idade do Ferro até então desconhecida. As ricas descobertas de Gate não apenas esclarecem seu status e papel tanto na Filístia quanto na região circundante, mas também fornecem dados valiosos que nos permitem entender a cultura filisteia de uma maneira nova e mais sofisticada.
Pesando a Ameaça Filisteia [QUADRO]
Por Aren M. Maeir
A Bíblia Hebraica frequentemente enfatiza a força dos Filisteus e seu domínio militar sobre o Israel primitivo (Juízes 13; 1 Samuel 4; 31). No entanto, há poucas evidências arqueológicas para apoiar essas alegações. Embora certamente tenham havido momentos em que os Filisteus foram dominantes, como o controle de Gate sobre a Shefelá durante os séculos X e IX a.C., não encontramos evidências de armamentos novos ou extensivos nos sítios filisteus. As muralhas e fortificações filisteias geralmente não são mais fortes ou impressionantes do que aquelas encontradas em Judá ou Israel antigo. E, apesar da tradição bíblica identificar os Filisteus com guerreiros gigantes (por exemplo, Golias e sua família), até agora não há sepultamentos que indiquem que os Filisteus eram mais altos ou fortes que qualquer um de seus vizinhos.
Parece, portanto, que a imagem bíblica de um inimigo poderoso e temido foi exagerada por razões ideológicas: o poder militar e o caráter ameaçador dos Filisteus serviram para enfatizar o poder e a dominação do Deus de Israel sobre até mesmo os inimigos mais ferozes. Esse é o caso das tradições bíblicas (como a história de Golias) que foram escritas na época de Davi e posteriormente, quando os Filisteus já não dominavam Israel e Judá e eram, portanto, vistos como uma força outrora poderosa que fora derrotada pela mão de Yahweh.
FONTE: Maeir, Aren M. “Gath of the Philistines: A New View of Ancient Israel’s Archenemy,” Biblical Archaeology Review 50.3 (2024): 38–45.